Fé e Medicina: Como a Ciência Me Fez Enxergar a Beleza de Algo Maior

Eu já fui aquele adolescente que achava religião uma invenção conveniente — uma forma de explicar o inexplicável e transferir responsabilidades. Hoje, mergulhado nos estudos de medicina, me vejo diante de um paradoxo fascinante: quanto mais aprendo sobre a ciência do corpo humano, mais me surpreendo com a complexidade que parece transcender o mero acaso. Esta é uma reflexão sobre como a medicina abriu meus olhos para a possibilidade de que existe um propósito por trás da vida.

Minha jornada: do ceticismo à curiosidade

Cresci em uma família católica, completei os ritos iniciais, mas na adolescência me afastei. Para mim, fé era sinônimo de superstição. Usava argumentos como “as pessoas criam deuses para o que não entendem” ou “religião é uma ferramenta de controle”. Acreditava piamente que tudo não passava de evolução e acaso — e ponto final.

Mas a medicina me ensinou que perguntas complexas merecem respostas mais profundas.

A virada: quando a ciência inspira espanto

No laboratório e nas aulas de anatomia e fisiologia, comecei a enxergar padrões de inteligência biológica que desafiam a noção de casualidade. Dois exemplos me marcaram profundamente:

1. A dança dos hormônios: ocitocina e progesterona

A ocitocina é um hormônio essencial no parto — estimula as contrações uterinas e ajuda a abrir o colo do útero. No entanto, durante a gravidez, contrações em excesso podem levar a um parto prematuro ou aborto.
Como então o corpo permite que uma mulher grávida amamente — um ato que também libera ocitocina?
A resposta está na progesterona. Esse hormônio, dominante durante a gravidez, age como um “protector” do útero, reduzindo sua sensibilidade à ocitocina. Assim, mesmo com a liberação do hormônio durante a amamentação, o útero não é estimulado a contrair de forma perigosa.
Ou seja: o mesmo hormônio, dois contextos, e uma regulação tão fina que beira a elegância. Isso não parece obra do acaso.

2. O equilíbrio perfeito: elastase e alfa-1-antitripsina

Nosso corpo produz enzimas potentes — como a elastase, capaz de quebrar a elastina, proteína que confere elasticidade a tecidos como os pulmões. Se agisse sem controle, destruiria nossos próprios órgãos.
Quem a impede?
O fígado produz a alfa-1-antitripsina (AAT), uma proteína que viaja pelo sangue e inibe a elastase, protegendo assim a estrutura dos alvéolos pulmonares.
Esse equilíbrio é tão vital que sua falha — como na Deficiência de AAT — causa enfisema pulmonar precoce. Ou seja: nosso corpo não só constrói, como também protege. Ele é ao mesmo tempo oficina e vigilante.

Nem perfeito, mas incrivelmente bem projetado

Claro, o corpo humano não é infalível. Doenças existem, sistemas falham. Mas a forma como ele se regula, se adapta e se protege é de uma sofisticação que vai muito além de mutações aleatórias.
Comecei a enxergar que talvez haja uma inteligência subjacente à vida — não necessariamente o Deus das religiões, mas algo maior, uma ordem, um propósito que a ciência ainda não consegue explicar totalmente.

Fé ≠ Religião: o que realmente importa

Hoje, consigo separar fé de dogmas institucionais. Para mim, o cerne não está em rituais, mas em valores.
Acredito que o propósito da vida é:

  • Vivê-la com bondade;
  • Não causar dano desnecessário a outros;
  • Deixar o mundo um pouco melhor do que encontramos.
    Seja num culto, num grupo de apoio ou numa roda de amigos, o que importa é o bem que geramos uns nos outros.

E além da vida?

Não sei se há algo após a morte. Não tenho certezas sobre reencarnação ou paraíso. Mas a complexidade que vejo na biologia me faz esperar que sim.
Espero que haja sentido nisto tudo. Espero rever quem amei e perdi. E, até lá, sigo estudando — com gratidão pela chance de testemunhar tanta beleza em forma de vida.

Um convite a pensar com ciência e coração

Se você é cético, como eu fui, não abra mão do seu questionamento. A ciência deve ser sempre sua base.
Mas permita-se também admirar o espantoso — a regência hormonal, a proteína que nos protege de nós mesmos, o milagre cotidiano de existir.
Talvez, como eu, você descubra que ciência e fé não são opostas. São duas linguagens para a mesma pergunta:
Há um propósito por trás de tudo isso?
E a resposta, seja qual for, é mais bonita quando a procuramos com honestidade.



E você? Como sua área de estudo ou experiências de vida influenciam sua visão do que é real, do que é sagrado, do que é humano? Conte nos comentários.

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