Ozempic: A Revolução no Tratamento da Obesidade ou Apenas Mais Uma Moda?

Quando ouvi falar do Ozempic pela primeira vez, confesso que me peguei pensando: será que estamos diante de uma verdadeira revolução para combater a obesidade, uma doença crônica que afeta milhões de pessoas no mundo, ou de uma nova febre motivada apenas pela busca por um “corpo perfeito” a qualquer custo?

Afinal, a obesidade é uma doença multifatorial, complexa e que afeta mais do que a aparência. É um problema de saúde pública que pode levar a complicações sérias, como doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e até mesmo alguns tipos de câncer. Por isso, a busca por tratamentos eficazes é tão importante, mas será que vale tudo?

Decidi mergulhar em alguns artigos científicos para entender melhor o uso do Ozempic e as suas implicações. Vou compartilhar o que descobri, mas já adianto uma das conclusões mais importantes: este medicamento, apesar de promissor, não é a cura milagrosa que as redes sociais fazem parecer.

Afinal, o que é o Ozempic?

Ozempic, cujo princípio ativo é a semaglutida, pertence a uma classe de medicamentos conhecidos como agonistas do receptor de GLP-1. O GLP-1 (peptídeo 1 semelhante ao glucagon) é um hormônio que nosso corpo produz e que atua em diversas frentes para regular os níveis de açúcar no sangue. Ele estimula a liberação de insulina pelo pâncreas, inibe a secreção de glucagon e retarda o esvaziamento do estômago.

A semaglutida é uma versão sintética desse hormônio que foi modificada para ter uma meia-vida mais longa, o que permite que seja administrada em doses semanais, em vez de diárias, como outros medicamentos da mesma classe, como a liraglutida. Originalmente, o Ozempic foi aprovado para o tratamento do diabetes tipo 2. No entanto, um de seus efeitos colaterais mais notáveis é a perda de peso, o que o tornou popular também para quem não tem diabetes.

Os resultados promissores no combate à obesidade

A eficácia da semaglutida no controle de peso tem sido amplamente demonstrada em estudos clínicos. Nos ensaios da série STEP (Semaglutide Treatment Effect in People with Obesity), o Ozempic, na dose de 2,4 mg, demonstrou ser o medicamento para obesidade com maior perda de peso até o momento.

Em um desses estudos, o STEP 1, os participantes que não tinham diabetes e usaram semaglutida por 68 semanas perderam, em média, 14,9% do peso corporal inicial, enquanto o grupo que tomou placebo perdeu apenas 2,4%. Isso representa uma redução de peso que se aproxima dos resultados de cirurgias bariátricas como a gastrectomia vertical.

Além disso, a perda de peso veio acompanhada de melhorias significativas em fatores de risco cardiovascular, como:

  • Redução da circunferência da cintura.
  • Redução da pressão arterial sistólica e diastólica.
  • Melhora nos níveis de colesterol total, LDL (o “colesterol ruim”) e triglicerídeos.
  • Aumento do HDL (o “colesterol bom”).

Riscos e consequências clínicas

Apesar dos resultados impressionantes, é crucial entender que o Ozempic é um medicamento e, como tal, apresenta riscos e efeitos colaterais, especialmente quando usado de forma “desregrada”, ou seja, sem a devida orientação médica e para fins estéticos.

Os efeitos colaterais mais comuns, relatados nos estudos STEP, são de natureza gastrointestinal:

  • Náusea (atingindo de 33,7% a 58,2% dos pacientes).
  • Diarreia (21,3% a 36,1%).
  • Vômito (21,8% a 27,3%).
  • Constipação (17,4% a 36,9%).

Embora a maioria desses efeitos seja de intensidade leve a moderada e passageira, eles são a principal causa de interrupção do tratamento.

Outros efeitos colaterais e preocupações importantes incluem:

  • Problemas na vesícula biliar: Houve um aumento no risco de eventos relacionados à vesícula biliar (principalmente cálculos biliares ou colelitíase), um efeito que parece ser comum à classe de medicamentos GLP-1.
  • Aumento da frequência cardíaca: A semaglutida pode causar um aumento na frequência cardíaca de 1 a 4 batimentos por minuto.
  • Pancreatite: Embora os estudos não tenham demonstrado uma ligação direta ou causal entre a semaglutida e a pancreatite, este é um risco que continua sendo monitorado e que é um ponto de atenção para a classe de agonistas do GLP-1.
  • Tumores de tireoide: Em estudos com roedores, a semaglutida causou tumores na tireoide, o que levou a uma advertência na embalagem nos Estados Unidos. No entanto, em humanos, a expressão do receptor de GLP-1 na tireoide é mínima, e não houve evidências conclusivas nos ensaios clínicos, mas o monitoramento continua.
  • Retinopatia diabética: Pacientes com diabetes tipo 2 e retinopatia diabética preexistente podem ter um risco maior de complicações na retina ao iniciar o tratamento com semaglutida, devido à rápida melhora do controle glicêmico.

A importância de um tratamento multidisciplinar

A busca por uma solução rápida, impulsionada por promessas de “corpo perfeito” nas redes sociais, pode desviar o Ozempic de sua finalidade original e expor as pessoas a riscos desnecessários.

A evidência científica é clara: o tratamento com Ozempic é mais eficaz quando combinado com mudanças no estilo de vida. Como o estudo STEP 4 demonstrou, a perda de peso não se mantém se o medicamento for interrompido, e os pacientes tendem a recuperar o peso perdido. Isso reforça a ideia de que a obesidade, para a maioria das pessoas, é uma condição crônica que precisa ser gerenciada a longo prazo, e não “curada” por um medicamento.

O acompanhamento de uma equipe multidisciplinar é fundamental. O tratamento deve incluir não apenas a farmacoterapia, mas também orientação nutricional e a prática de atividade física regular. Profissionais como médicos, nutricionistas e farmacêuticos desempenham um papel crucial ao fornecer orientação sobre o uso correto, os efeitos colaterais e a importância de mudanças duradouras no estilo de vida.

Conclusão: é uma ferramenta, não a solução única

A semaglutida representa um avanço significativo no tratamento da obesidade e, sem dúvida, tem o potencial de melhorar a vida de muitas pessoas. No entanto, ela é uma ferramenta de alta potência, com um custo elevado e que não deve ser usada sem critério.

O Ozempic não é um atalho para a perda de peso, mas sim um componente valioso de um plano de tratamento integral. A verdadeira mudança acontece quando o medicamento é associado à reeducação alimentar e à atividade física.

Para você que está explorando essa área, fica a minha reflexão: a ciência nos oferece soluções poderosas, mas a responsabilidade de usá-las de forma consciente e segura é nossa. O que você acha? Já tinha parado para pensar sobre os riscos e a importância do acompanhamento profissional nesse tipo de tratamento?

Referências

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Smits MM, Van Raalte DH. Safety of Semaglutide. Front Endocrinol (Lausanne). 2021 Jul 7;12:645563. doi: 10.3389/fendo.2021.645563. Erratum in: Front Endocrinol (Lausanne). 2021 Nov 10;12:786732. doi: 10.3389/fendo.2021.786732. PMID: 34305810; PMCID: PMC8294388.

TRABULSI, R. K.; OLIVEIRA, A. F. dos S. M.; BEZERRA, C. M. F. M. de C.; LIMA, J. B.; SOUSA, C. E. da S.; PACHECO, I. A.; GUSMAO, E. E. S.; CASTRO, C. de F.; SILVA, V. P.; DE SOUSA, S. M. C.; ÁLVARES, R. F. As consequências clínicas do uso de Ozempic para tratamento da obesidade: uma revisão de literatura. Brazilian Journal of Health Review[S. l.], v. 6, n. 3, p. 12297–12312, 2023. DOI: 10.34119/bjhrv6n3-305. Disponível em: https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BJHR/article/view/60600. Acesso em: 17 sep. 2025.

O USO INDISCRIMINADO DO MEDICAMENTO OZEMPIC VISANDO O EMAGRECIMENTO. (2023). Revista Multidisciplinar Do Nordeste Mineiro5(1). https://remunom.ojsbr.com/multidisciplinar/article/view/1307

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